A visão começa a ficar embaçada. Ler uma mensagem no celular exige esforço. Objetos próximos parecem distantes, e contornos antes nítidos se confundem com o fundo. Pode parecer apenas cansaço ou algo passageiro, mas esses sinais muitas vezes indicam que a "vitrine do corpo" está dando um recado: algo não vai bem com a saúde dos olhos.
Um levantamento da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) revelou que 11,6% das 2.132 pessoas pesquisadas nunca passaram por uma consulta com um oftalmologista. A ausência de acompanhamento especializado pode favorecer o avanço de doenças oculares silenciosas, geralmente descobertas apenas em estágios avançados.
Entre essas doenças, o glaucoma se destaca como uma das mais perigosas. "O grande desafio do glaucoma é seu caráter silencioso. Trata-se de uma neuropatia óptica — uma degeneração progressiva do nervo responsável por levar as imagens do olho ao cérebro. Embora não tenha cura, a condição pode ser controlada com medicação ou outros tratamentos adequados, desde que diagnosticada precocemente, o que ajuda a evitar a perda da visão", explica a médica oftalmologista, Letícia Cantelli Daud, do Hospital de Olhos de Cascavel.
De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), entre 1% e 2% da população mundial convive com o glaucoma. Estima-se que, até 2040, mais de 111 milhões de pessoas poderão ser afetadas pela doença. O primeiro sinal costuma ser a perda da visão periférica, que pode passar despercebida. Muitos só descobrem a patologia quando ela já está em estágio avançado. Por isso, a melhor forma de prevenção é realizar exames oftalmológicos regularmente.
"O tipo mais comum é o glaucoma de ângulo aberto, que geralmente afeta pessoas a partir dos 40 anos. No entanto, é importante que todos fiquem atentos, pois a doença também pode ocorrer em bebês (glaucoma congênito), em crianças e em pacientes que fazem uso de corticoides", alerta a especialista em catarata e glaucoma, Dra. Letícia.
Fique de olho nos sintomas
A Sociedade Brasileira de Oftalmologia recomenda que adultos consultem um oftalmologista ao menos uma vez por ano, mesmo sem sintomas aparentes. Pessoas com histórico familiar de glaucoma ou diabetes devem redobrar a atenção e manter um acompanhamento mais rigoroso.
Além do glaucoma, outras doenças como catarata, degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética também podem se desenvolver de forma silenciosa, comprometendo a visão.
A médica destaca ainda os desafios no tratamento do glaucoma em pacientes mais jovens. Segundo ela, além de a doença se manifestar de forma mais agressiva, o tratamento exige acompanhamento prolongado, já que esses pacientes convivem com a condição por décadas. "É diferente de um diagnóstico feito aos 50 anos, por exemplo. Quanto mais cedo a doença aparece, maior o tempo de exposição aos seus efeitos", explica.
"Quando o diagnóstico ocorre na juventude, o paciente precisa lidar com o glaucoma por muito mais tempo, exigindo cuidados contínuos ao longo da vida. Já quando a doença é identificada por volta dos 50 anos, a convivência tende a ser mais curta, considerando a expectativa de vida", complementa.
Avanços no tratamento
Nos últimos anos, o tratamento do glaucoma avançou significativamente. Antes limitado, hoje conta com alternativas mais eficazes, que ajudam a preservar a visão e proporcionar melhor qualidade de vida. As abordagens incluem colírios, procedimentos a laser e, nos casos mais graves, cirurgia. A escolha do tratamento é individualizada e feita em conjunto com o oftalmologista, de acordo com o estágio da doença.
"Hoje contamos com recursos que permitem controlar o glaucoma com muito mais eficiência. Em casos iniciais, conseguimos bons resultados com colírios e laser. Já nos estágios avançados, a cirurgia pode ser necessária. Apesar dos riscos, ela é cuidadosamente avaliada para garantir o melhor benefício ao paciente", conclui a médica especialista do Hospital de Olhos de Cascavel.
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