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Quase 70% dos exportadores ainda convertem dólar no pior momento e nem sabem

Dados revelam um entrave silencioso: empresas brasileiras continuam presas a um modelo ultrapassado de gestão cambial — e isso tem um custo alto.

Autor: Vinicius RamosFonte: De Assessoria de Imprensa

Um levantamento interno cruzando dados públicos do Banco Central com o comportamento de empresas exportadoras brasileiras revelou um dado preocupante: quase 70% dos exportadores continuam liquidando dólar em momentos desfavoráveis, por falta de estrutura para gerir o câmbio com autonomia ou por dependerem de regras fixas dos bancos tradicionais.

Esse movimento silencioso gera perdas recorrentes nas operações de comércio exterior. "Boa parte dos empresários acredita que está fazendo um bom negócio só porque não tem dor de cabeça na operação. Mas o custo da conveniência pode ser altíssimo quando se converte dólar em momentos ruins ou se abre mão da flexibilidade cambial", afirma Vinicius Ramos, fundador da Hood, empresa especializada em câmbio para pessoas jurídicas.

Segundo ele, o maior problema é estrutural. "O Brasil ainda força exportadores a trazer o valor para o país imediatamente, mesmo que o câmbio não esteja favorável. Isso impede que as empresas segurem a moeda estrangeira, esperem um momento melhor ou paguem fornecedores globais com agilidade. A conta chega aos poucos, como perda de margem, de competitividade, de tempo."

O estudo indica que a grande maioria das empresas que atuam com comércio exterior ainda está presa a um modelo herdado da década de 90: dependência de aprovação bancária, processos manuais, falta de previsibilidade e conversões obrigatórias que não respeitam a lógica da estratégia de negócio.

"O empresário que importa ou exporta deveria olhar para o câmbio como um instrumento de lucro e proteção. Mas o sistema empurra ele para apenas aceitar o que é imposto", diz Vinicius. "Enquanto isso, países concorrentes como México, Polônia e até economias menores oferecem contas multimoeda, maior liberdade de negociação e estruturas de hedge acessíveis. Aqui, isso ainda parece um luxo, quando deveria ser o básico."

A perda, segundo estimativas de mercado, varia entre 2% e 5% do volume total transacionado. Em uma empresa com receita anual de US$ 5 milhões, isso representa até US$ 250 mil evaporando por ineficiências cambiais — sem que ninguém perceba de onde veio o prejuízo.

Além da perda direta, há um impacto indireto cada vez mais relevante: a falta de previsibilidade no caixa. Em tempos de volatilidade global, juros flutuantes, tarifas imprevisíveis e oscilações no dólar, não saber o momento certo de internalizar ou manter valores em moeda forte pode significar perder negócios inteiros.

"Modernizar a forma como as empresas brasileiras operam no câmbio é uma agenda urgente", defende Ramos. "Estamos vendo empresas ganharem novos mercados, mas abrem mão de receita por não conseguirem negociar melhor com o próprio dinheiro. Isso precisa mudar. Não estamos falando de especulação ou operação de risco, estamos falando de inteligência financeira."

A boa notícia, segundo ele, é que já existem alternativas surgindo, como a da própria Hood que deve chegar em breve ao mercado, que oferecem estruturas mais próximas do que se vê lá fora: contas em moeda estrangeira, autonomia para decidir o momento da conversão e menor dependência de prazos bancários. "As empresas precisam parar de tratar o câmbio como uma dor e começar a tratá-lo como uma alavanca estratégica", conclui.